Constipação intestinal nas crianças

Constipação Intestinal nas Crianças: causas Físicas e Emocionais e como Ajudar no Dia a Dia

É comum que, em algum momento da infância, os pais percebam que o cocô não está acontecendo como antes. A criança começa a reclamar de dor na barriga, evita ir ao banheiro, faz força, chora ou passa dias sem evacuar.

Em outros casos, o sinal aparece de forma mais silenciosa, como uma calcinha sempre suja, perda de apetite ou irritabilidade sem motivo claro. A constipação intestinal faz parte da rotina de muitas famílias e, apesar de ser frequente, nunca deve ser banalizada.

Na prática do consultório, é importante olhar para esse quadro de forma ampla. O intestino da criança não funciona isolado. Ele responde à alimentação, à hidratação, ao movimento do corpo, ao ambiente emocional e às experiências que aquela criança está vivendo.

O que é constipação intestinal na infância

A constipação intestinal é caracterizada por evacuações difíceis, dolorosas ou infrequentes, com fezes endurecidas, ressecadas ou muito volumosas. Algumas crianças evacuam todos os dias, mas de forma incompleta, em pequenas bolinhas. Outras passam vários dias sem evacuar e, quando conseguem, sentem dor intensa.

Não existe um número mágico que defina o que é normal para todas as crianças. A frequência do intestino muda ao longo da infância. Bebês evacuam mais vezes ao dia, principalmente quando são amamentados. Após o primeiro ano de vida, a maioria das crianças evacua uma a duas vezes ao dia, mas algumas evacuam a cada dois ou três dias e continuam saudáveis, desde que as fezes sejam macias e a evacuação não cause desconforto.

O alerta surge quando há dor, esforço excessivo, fezes muito duras, sangramento, medo de evacuar ou mudanças claras no padrão habitual da criança.

Por que a constipação acontece

Em cerca de 95% dos casos, a constipação infantil é funcional. Isso significa que não há uma doença estrutural ou grave por trás do problema. O que existe é uma combinação de fatores físicos, alimentares e emocionais.

Do ponto de vista físico, alguns intestinos são naturalmente mais lentos. Quando isso se soma a uma alimentação pobre em fibras e a uma ingestão insuficiente de água, o trânsito intestinal fica ainda mais difícil. A introdução alimentar, a transição do aleitamento para outros alimentos, o início da escola e o desfralde são momentos clássicos em que a constipação pode aparecer.

Mas o intestino também reage às emoções. Crianças que sentiram dor ao evacuar uma vez podem passar a segurar o cocô por medo de sentir aquela dor novamente.

Outras evitam ir ao banheiro da escola, não querem interromper uma brincadeira ou estão vivendo situações de estresse, como mudanças na rotina, chegada de um irmão ou tensões familiares. Esse comportamento de retenção faz com que as fezes fiquem mais tempo no intestino, percam água, endureçam e causem ainda mais dor, criando um círculo difícil de quebrar.

É fundamental reforçar que a criança não prende o cocô por birra ou teimosia. Na grande maioria das vezes, ela está tentando se proteger de algo que já foi desconfortável ou doloroso.

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Quando investigar causas orgânicas

Em uma pequena parcela dos casos, a constipação pode estar relacionada a causas orgânicas, como alergia à proteína do leite de vaca, alterações hormonais como o hipotireoidismo, distúrbios metabólicos, doenças intestinais ou alterações neurológicas.

Em bebês muito pequenos, a ausência de evacuação nas primeiras 24 a 48 horas de vida sempre merece investigação cuidadosa.

Sinais como perda de peso, crescimento inadequado, vômitos frequentes, distensão abdominal importante, febre ou sangue recorrente nas fezes indicam a necessidade de avaliação médica mais detalhada.

O impacto emocional da constipação

A constipação não afeta apenas o intestino. Crianças constipadas podem ficar mais irritadas, comer menos, dormir pior e apresentar resistência ao banheiro. Em quadros mais prolongados, o intestino pode se dilatar e formar um grande bolo fecal.

Nessa situação, fezes mais moles conseguem escapar ao redor desse acúmulo e sujar a roupa íntima, o que muitas vezes é confundido com diarreia. Esse quadro costuma gerar constrangimento para a criança e angústia para a família.

Por isso, a abordagem precisa ser acolhedora, sem broncas, punições ou comparações. O intestino precisa de segurança para voltar a funcionar bem.

Como ajudar no dia a dia

O cuidado com a constipação começa em casa, com mudanças consistentes e gentis na rotina. Alimentação, hidratação, movimento e ambiente emocional caminham juntos nesse processo.

Alguns pilares fazem diferença no tratamento e na prevenção:

  • oferecer diariamente alimentos ricos em fibras, como frutas, verduras, legumes e cereais integrais, respeitando a fase e a aceitação da criança
  • garantir ingestão adequada de água ao longo do dia, e não apenas em pequenos goles
  • estimular o movimento corporal, com brincadeiras ativas, correr, pular e explorar o corpo
  • criar uma rotina tranquila para o uso do banheiro, especialmente após as refeições, sem pressa e sem cobranças
  • respeitar os sinais do corpo da criança, evitando que ela segure a evacuação

Em alguns casos, mesmo com essas mudanças, o intestino precisa de ajuda medicamentosa temporária para amolecer as fezes e quebrar o ciclo de dor e retenção. Quando bem indicados e acompanhados pelo pediatra, os laxantes não causam dependência e fazem parte do tratamento.

Receitas caseiras, supositórios e intervenções sem orientação devem ser evitados. Cada criança tem um intestino, uma história e uma necessidade diferente.

O tempo do intestino também é o tempo da criança

Quanto mais cedo a constipação é reconhecida e tratada, mais simples costuma ser a recuperação do hábito intestinal saudável. Quando o quadro se prolonga, o tratamento exige mais tempo, paciência e acompanhamento.

Cuidar do intestino infantil é cuidar da criança como um todo. É olhar para o prato, para o copo de água, para o corpo em movimento, mas também para a rotina, as emoções e o ambiente em que ela vive. Com acolhimento, orientação adequada e constância, o intestino encontra novamente seu ritmo natural.

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