Vitaminas na Infância: Quando Suplementar, Quando Observar e como Garantir Equilíbrio?
Em algum momento da infância, quase toda família se depara com essa dúvida. A criança come pouco, adoece com frequência, passa por fases de seletividade alimentar ou simplesmente parece não ter a mesma energia de antes. Rapidamente surge a pergunta se está faltando alguma vitamina e se seria o caso de suplementar.
Falar sobre vitaminas na infância exige um olhar mais cuidadoso e menos automático. Nem toda dificuldade alimentar significa deficiência, assim como nem toda suplementação é inofensiva.
Entre observar, investigar e intervir, existe um caminho de equilíbrio que respeita o tempo da criança, o funcionamento do corpo e a realidade da rotina familiar. É sobre esse caminho que este texto propõe refletir, ajudando a entender quando suplementar, quando apenas acompanhar e como promover uma nutrição mais segura e consciente ao longo do crescimento.
Vitaminas na infância fazem parte de um sistema, não de uma fórmula pronta
Vitaminas são micronutrientes essenciais para o crescimento, o desenvolvimento neurológico, a imunidade, a formação óssea e o bom funcionamento do metabolismo. Na infância, as necessidades são proporcionais ao ritmo acelerado de crescimento, mas isso não significa que toda criança precise de suplementação.
Na maioria das vezes, quando a alimentação é variada, o crescimento é acompanhado adequadamente e a criança está saudável, o organismo consegue obter o que precisa dos alimentos. O desafio é que nem sempre a alimentação real da rotina familiar corresponde ao que se imagina como “ideal”, e nem toda deficiência dá sinais claros logo no início.
Quando observar antes de suplementar
Observar é parte fundamental do cuidado pediátrico. Crescimento, curvas de peso e estatura, desenvolvimento motor, comportamento, sono e histórico alimentar dizem muito mais do que um sintoma isolado.
Crianças seletivas, por exemplo, nem sempre apresentam deficiência vitamínica. Em muitos casos, estão passando por fases esperadas do desenvolvimento, especialmente entre dois e cinco anos. Nesses momentos, a orientação costuma focar em organização de rotina, exposição repetida aos alimentos, ambiente das refeições e redução de ultraprocessados, antes de qualquer suplemento.
Da mesma forma, crianças que crescem bem, adoecem pouco e têm exames dentro da normalidade geralmente não se beneficiam do uso indiscriminado de polivitamínicos. Suplementar sem necessidade não melhora a saúde e pode, inclusive, mascarar problemas que precisam ser resolvidos na base, que é a alimentação e o estilo de vida.

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Quando a suplementação é necessária
Existem situações em que suplementar não só é indicado, como essencial. A mais conhecida é a vitamina D, recomendada rotineiramente na primeira infância, independentemente da alimentação, devido à dificuldade de atingir níveis adequados apenas com dieta e exposição solar segura.
Outras vitaminas e minerais podem ser indicados conforme o contexto clínico. Crianças com anemia, restrições alimentares importantes, doenças gastrointestinais, alergias alimentares, prematuridade, baixo peso ao nascer ou histórico de infecções frequentes podem precisar de suplementação direcionada e temporária.
Nesses casos, a escolha do nutriente, da dose e do tempo de uso deve ser individualizada. Mais nem sempre é melhor, e excesso de vitaminas também pode gerar desequilíbrios, sobrecarga hepática ou interferência na absorção de outros nutrientes.
O risco do uso indiscriminado de polivitamínicos
O uso rotineiro de polivitamínicos sem avaliação pode criar uma falsa sensação de segurança. A criança “toma vitamina”, mas continua com uma alimentação pobre em variedade, rica em produtos ultraprocessados e com rotina desorganizada. O suplemento não corrige esses fatores.
Além disso, algumas vitaminas competem entre si na absorção, enquanto outras, quando consumidas em excesso, acumulam no organismo. A infância é um período de construção metabólica, e o equilíbrio é sempre mais benéfico do que intervenções excessivas.
Como garantir equilíbrio na prática
Garantir equilíbrio vitamínico começa muito antes do frasco de suplemento. Envolve escolhas diárias possíveis, consistentes e alinhadas à realidade da família. Alimentação baseada em comida de verdade, com presença regular de frutas, legumes, verduras, proteínas, cereais e gorduras de boa qualidade é a principal fonte de micronutrientes.
Sono adequado, exposição ao sol com orientação, tempo para brincar, movimento e redução do estresse também influenciam diretamente a forma como o organismo utiliza vitaminas e minerais. O corpo não funciona por partes isoladas, e isso é ainda mais verdadeiro na infância.
A avaliação pediátrica regular permite identificar sinais sutis de deficiência, orientar ajustes alimentares e indicar suplementação apenas quando ela realmente faz sentido. Assim, o cuidado deixa de ser baseado no medo da falta e passa a ser construído a partir do equilíbrio.
Um olhar mais tranquilo sobre vitaminas na infância
Vitaminas não são atalhos, nem soluções mágicas. Elas fazem parte de um sistema complexo que envolve alimentação, crescimento, ambiente e vínculo. Saber quando suplementar, quando observar e como garantir equilíbrio é um processo que se constrói com acompanhamento, escuta e individualização.
Cuidar da nutrição infantil é menos sobre adicionar produtos e mais sobre sustentar rotinas possíveis, respeitar fases do desenvolvimento e oferecer ao corpo infantil o que ele precisa para crescer com saúde, hoje e no futuro.

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